Arapiraca
Localizado no agreste de Alagoas, o nome do mais
importante município do interior é de origem indígena,
oficializado com a emancipação política ocorrida em 1924. Provém
de uma árvore frondosa típica do lugar, da família das mimosáceas,
que dava sombra e conforto aos viajantes que passavam por ali sob
sufocante calor tropical. Os índios a chamavam de “árvore em que
periquito pousa” ou, segundo outra versão, “ramo que arara
visita”. Do tupi: “ara” quer dizer periquito (ou arara de
acordo com outros); “pira” pode ser traduzido como pousa; e “aca”
significa ramo de árvore. Trata-se de uma espécie de angico branco,
muito comum no Agreste e no Sertão, e que o povo, à sua maneira,
denomina de Arapiraca.
Segundo a tradição popular, Manoel André, o
fundador da cidade, acampou à sombra de uma acolhedora Arapiraca,
situada à margem direita do Riacho Seco, quando havia se dirigido
àquela região, em 1848, para tomar posse da propriedade Alto do
Espigão do Simão do Cangandu, adquirida por seu sogro, Capitão
Amaro da Silva Valente de Macedo, que residia no então Povoado de
Cacimbinhas, município de Palmeira dos Índios. Na oportunidade,
teria dito: “Essa Arapiraca, por enquanto, é a minha casa.”
Então, seria esse o primeiro marco histórico e o referencial
inicial da futura cidade.
SÍMBOLO DO PROGRESSO - Arapiraca passou a
se mostrar, no final dos anos 40 do século XX, como o símbolo do
progresso alagoano e das grandes transformações por que passava o
Estado. Invejado por seus vizinhos e por outras cidades bem
mais antigas, o município, favorecido pela sua privilegiada condição
geográfica no coração de Alagoas, pelo advento do ciclo rodoviário
e pelo caráter empreendedor de sua gente, alcançou
extraordinário crescimento econômico. Os arapiraquenses passaram a
cultivar um orgulho enorme de sua cidade e um saudável bairrismo,
que pode ser confundido com um destino manifesto de sua terra. O fumo
passou a ser o que o café, em seus dias de glória, representou para
o Brasil. Mas foi uma reforma agrária natural, a policultura - que
suplementou a produção fumageira - e a pequena propriedade que a
diferenciou dos outros municípios, ajudando-a a tornar-se o que é.
Rompeu com a grande propriedade e a tradição latifundiária do
Estado e mostrou uma nova alternativa. Fez surgir também a
pequena e média empresa comercial e industrial, convivendo com
grupos econômicos mais fortes e uma classe média saudável, nascida
do empreendedorismo e das muitas oportunidades que oferecia sua
economia. Progresso, dinamismo e expansão econômica tornaram-na a
mais importante cidade do interior, a ponto de ter sido proposto, nos
anos 80 do século passado, por um parlamentar de outra cidade,
que ela fosse a nova capital de Alagoas. Tornou-se uma
locomotiva econômica, uma espécie de São Paulo local. Apesar de
ter refreado sua expansão, sofrendo as adversidades da nova
conjuntura do Estado e do país nas duas últimas décadas, afetando
principalmente o fumo, esteio de sua economia, a cidade continua a
sua trajetória de participação ativa na vida econômica, social e
política do Estado.
A ORIGEM - Consta que as terras onde hoje se situa
Arapiraca pertenciam a Marinho Falcão, que as vendeu ao Capitão
Amaro da Silva Valente de Macedo. No ano de 1848, o Capitão Amaro
Valente enviou o genro Manoel André Correia dos Santos, juntamente
com a família, àquela localidade, em virtude de uma séria contenda
entre Manoel André e o cunhado, José Ferreira de Macedo. Após
longos dias de trabalhos e perigos, o pioneiro alcançou uma planície
onde resolveu parar. Fez acampamento embaixo de uma frondosa
Arapiraca e aí permaneceu vários dias. À sombra da árvore,
levantou uma cabana de madeira coberta com cascas de angico, onde
passou os primeiros dias, enquanto construía a primeira casa numa
distância de cerca de cem metros, que serviu de habitação para sua
família. Desde esta época, Arapiraca conservou seu nome.
Nos primórdios, os habitantes da povoação eram
quase todos ligados entre si por laços de parentesco. Em 1855, uma
perda lamentável abalou os moradores do núcleo populacional: morreu
a esposa de Manoel André, vítima da epidemia de cólera.
Consternado e enlutado, ele prometeu construir uma igreja sobre sua
sepultura. Desse modo, em 1864, erigiu a igreja consagrando-a à
Nossa Senhora do Bom Conselho.
No início do século XX, de acordo com as
informações de Zezito Guedes, em seu livro “Arapiraca Através do
Tempo”, a cidade “ainda era edificada com casas de taipa, modelo
duas águas com biqueira, existindo duas construções em alvenaria:
uma no atual comércio, construída pelo Capitão Chico Pedro, outra
na Rua Nova, hoje Praça Deputado Marques da Silva, um sobrado
construído por Antônio Apolinário e que depois serviu de Paço
Municipal.” Também, segundo o autor, em Arapiraca ainda existiam,
naqueles tempos, vestígios da época da fundação. Assim, em pleno
centro urbano, havia muitas árvores nativas, “em cujas sombras os
feirantes colocavam carros-de-boi, amarravam animais e a meninada da
época brincava diariamente”. Era, já neste período,
“florescente, muito comercial e centro de grande produção de
farinha de mandioca”. Existiam também algumas fábricas de
beneficiar algodão. Conforme assevera Adalberto Marroquim, em “Terra
das Alagoas”, “os produtos de Arapiraca, principalmente
cereais, vão para as margens do São Francisco e daí para Penedo,
distante trinta léguas”. Ainda segundo o autor, o Estado mantinha
em Arapiraca, naquele tempo, duas escolas públicas.
A prosperidade crescente e o progresso indubitável
fizeram os arapiraquenses começarem a acalentar o sonho da
independência. O desenvolvimento cada vez maior do burgo motivou o
início de um movimento por sua autonomia administrativa. A partir de
1918, o Major Esperidião Rodrigues da Silva assumiu o comando da
campanha em prol da emancipação política do distrito de Arapiraca,
tornando-se personagem singular dessa trama histórica. As lideranças
políticas de Limoeiro de Anadia, ao qual pertencia Arapiraca, não
pretendiam colaborar com o processo emancipatório, pois não
desejavam perder a substancial renda mensal do seu mais importante
distrito. Mas o Major Esperidião Rodrigues, homem denodado e afeito
à luta, não desistiu e continuou enfrentando pacientemente todos os
reveses, preparando relatórios com dados demográficos e econômicos,
realizando exaustivas viagens à Capital e fazendo verdadeiras
peregrinações às secretarias de Estado, Assembleia Legislativa,
Tribunal de Justiça, Palácio do Governo e outros órgãos da
administração pública. Ao longo dos anos, a luta que se
tornou árdua ganhou o importante e providencial apoio do
Deputado Odilon Auto, natural do Pilar, que resolveu defender a causa
arapiraquense. Durante meses, o abnegado parlamentar se empenhou com
toda a sua capacidade de trabalho, acompanhando e agilizando,
diligentemente, a burocracia da tramitação do processo. Enfim, após
vários debates e acaloradas discussões, o Projeto De lei nº 1.009
foi aprovado pela Assembleia Legislativa. Então, no dia 30 de maio
de 1924, o governador de Alagoas, Fernandes Lima, sancionou a
referida lei, confirmando, assim, a emancipação política de
Arapiraca.
Primitivamente, como distrito, Arapiraca esteve
sob a jurisdição, sucessivamente, de Penedo, Porto Real do Colégio,
São Brás e Limoeiro de Anadia. Como município independente,
constituiu-se de território desmembrado de Palmeira dos Índios,
Porto Real do Colégio, São Brás, Traipu e Limoeiro de Anadia. Pelo
Decreto nº 1.071, de 24 de outubro de 1924, passou a pertencer à
comarca de Palmeira dos Índios. Em 1931, passou à jurisdição da
comarca de Anadia. Em 17 de setembro de 1949, finalmente, Arapiraca
foi elevada à categoria de comarca.
A evolução cultural de Arapiraca seguiu uma
trajetória uniforme ao longo do tempo. Já em 1885 foi contratado o
professor Antônio Raimundo, às expensas das lideranças do povoado,
para ensinar a meninada a ler, escrever e a contar. As aulas eram
ministradas numa residência particular improvisada como sala de
aula. Em 1892 foi nomeada a primeira professora estadual, Marieta
Peixoto Rodrigues. No início do século XX, em 1908, foi criada pelo
Major Esperidião Rodrigues da Silva a Escola de Música União
Arapiraquense, que incrementou significativamente a cultura da
comunidade. Após a emancipação política, em 1924, foram
realizados os primeiros carnavais com desfile de blocos pelas ruas,
bem como as primeiras festas juninas. Surgiram diversas manifestações
folclóricas, tais como o reisado, o quilombo do Lídio, pastoris,
folia de reis, coco-de-roda, cantigas das destaladeiras, dentre
outros.
Mais tarde, com o grande desenvolvimento do burgo,
a cultura recebeu enorme impulso. Em 1940, foi instituído
oficialmente o curso primário com a fundação do Grupo Escolar
Adriano Jorge. Em 1943, foi fundado o Instituto São Luís e a partir
de 1944 o professor Pedro Reis e os membros da Congregação Mariana
começaram as encenações das primeiras peças de teatro na escola.
Em 1949, Pedro Onofre de Araújo e José de Sá criaram o Teatro
Amador. No ano de 1950, teve lugar a fundação do Ginásio Nossa
Senhora do Bom Conselho, marco indelével na história da educação
e da cultura de Arapiraca. Em 1952, outra importante efeméride marca
a sociedade arapiraquense: a fundação da Associação Sportiva de
Arapiraca, o ASA, que tantas glórias deu ao futebol alagoano. Em
1955, por iniciativa da Irmã Luzinete Ribeiro de Magalhães, foi
criado o Colégio São Francisco de Assis, que teve como primeira
diretora a Irmã Maria Helena. Outro passo decisivo na educação da
mocidade arapiraquense foi a fundação da Escola de Comércio, em
1956, para dar aos jovens uma formação técnica.
No campo do ensino superior, foi criada, em 1971,
a Fundação Educacional do Agreste, que manteve a Faculdade de
Formação de Professores de Arapiraca. Em 1990, a Fundação foi
estadualizada, passando a integrar a Fundação Universidade Estadual
de Alagoas, em 1996.
Arapiraca ganhou nos últimos anos um importante
espaço intelectual, a Casa da Cultura. Na atualidade, diversas
instituições culturais movimentam a cidade, como a Academia
Arapiraquense de Filosofia, Ciências e Letras; Associação
Arapiraquense de Produtores de Bens de Cultura; Núcleo de Cultura
Avançada; Instituto de Línguas da Secretaria de Educação e
Cultura da Prefeitura de Arapiraca; Casa da Cultura, com moderna
biblioteca, e o Museu do Fumo, dentre outras.
O teatro em Arapiraca muito deve à iniciativa do
professor Pedro de França Reis, diretor do Instituto São Luís e
membro da Congregação Mariana. Ele reuniu alguns jovens para
ensaiar as primeiras peças na escola. Essas peças foram exibidas no
salão da empresa Força e Luz e no palco do Cine Leão com boa
afluência de público. Foram encenadas as seguintes peças: Deus e
Alá, O Pequeno Volantim, Deus lhe Pague, O Saltimbanco e A Família
dos Molhados. Na década de 50, Pedro Onofre e José de Sá montaram
as peças de teatro O Martírio de Santa Filomena, Terra Vermelha,
Coração Materno e outras.
As artes plásticas também tiveram um grande
impulso em solo arapiraquense. Já em 1956, José de Sá realizou uma
exposição individual na Câmara de Vereadores, com paisagens,
pinturas sacras e acadêmicas. Mas foi sobretudo a partir da década
de 60 que o movimento artístico desenvolveu-se com mais intensidade.
Em outubro de 1967, esse movimento viveu o seu zênite com a
realização do 1ª Salão de Arte de Arapiraca. O evento ocorreu
durante as festas da Emancipação Política da cidade e na
inauguração do Real Hotel. Esse 1º Salão de Arte, que foi um
grande acontecimento artístico e impulsionou de maneira notável a
cultura de Arapiraca, contou com a participação de Ismael Pereira
(o idealizador), Zezito Guedes (foto), Izabel Torres, José de Sá,
Alexandre Tito, Mauro Jorge, Chico Artes e Sebastião Ferreira
(Bibi). A mostra coletiva reuniu pinturas, desenhos, esculturas em
madeira e gesso de diversos estilos e nas mais variadas técnicas.
O antigo provérbio latino “Ex digito gigans”
(pelo dedo se conhece o gigante) pode muito bem ser aplicado a
Arapiraca. Desde muito cedo, o burgo revelou sua grandiosa vocação
desenvolvimentista. Em 1884, foi criada a feira livre do então
povoado, por iniciativa do Major Esperidião Rodrigues. Em pouco
tempo, a feira foi evoluindo e motivando o surgimento de
estabelecimentos comerciais de caráter permanente. Após a
emancipação, a feira livre tomou extraordinário impulso, atraindo
inúmeros comerciantes de outros municípios que se instalaram na
cidade. A prosperidade econômica continuou ascendente. Na década de
70, a feira de Arapiraca já tinha dimensão regional, tornando-se um
verdadeiro complexo ao lado do comércio local e da produção
fumageira. Em 1985, o município assumiu a condição de cidade-pólo
regional e sua feira já estava, então, entre as maiores do
Nordeste.
Quem vai a Arapiraca não pode deixar de conhecer
as obras dos seus artistas. Zezito Guedes, escultor, folclorista e
escritor, trabalha com madeira, pedra e ferro, inspirado em motivos
populares. É autor dos livros “Cantigas das Destaladeiras de Fumo”
e “Arapiraca Através do Tempo”. Destacam-se também, Josias
Saturnino Silva, pintor e entalhador; José de Sá, ator e pintor;
Alexandre Tito, escultor, pintor e poeta popular; Júnior Borges,
pintor; Benedito Luiz, artesão; Francisco Alexandre, pintor;
Saturnino João, escultor e zabumbeiro; José Almir, artesão de
couro; Fernando Lima, pintor; Ismael Pereira, pintor que participou
de várias exposições individuais e coletivas, inclusive no
Exterior; dentre outros.